segunda-feira, 12 de abril de 2010

Lady Gaga, antes de tudo filhinha do papai




Lady Gaga não veio ao mundo a passeio. Ela mesma diz, às gargalhadas, que veio ao mundo para causar escândalo. Mas acontece que, atualmente, ela não consegue passar mais de dois dias na mesma cidade. A única interrupção, ainda que breve, na sua maratona internacional de shows, veio inesperadamente, e de modo dramático: na semana passada, ela foi parar num hospital de Nova York porque seu pai precisou fazer uma cirurgia cardíaca de emergência. E, naqueles dias no hospital, pela primeira vez nos últimos três anos, Stefani Joanne Angelina Germanotta tirou a fantasia de Lady Gaga. Foi quando Stefani descobriu que ela é “antes de tudo, uma filhinha do papai e depois, só depois, muito depois, Lady Gaga, a loura da vez do pop dance americano, a herdeira de Madonna, com quem aliás ela trocou tapas e tabefes num esquete humorístico para o Saturday Night Live, no horário nobre da TV americana.

Depois que seu pai voltou para casa, Lady Gaga voltou a desfilar louríssima pelas noites de Nova York, numa versão dark de Marilyn Monroe, com vestido preto, óculos escuros e baton vermelho sangue, para lançar seu novo disco, “The fame monster”, um álbum duplo que vai estar disponível nas lojas dia 23 de novembro com o selo da Universal e que, além das músicas já conhecidas de seu disco de estréia, inclui oito canções inéditas, todas falando sobre um mesmo tema: o medo. Daí o título, que mistura “The fame”, nome do primeiro disco que já vendeu quatro milhões de cópias, e “Monster”, tema do segundo, falando sobre medo do amor, da solidão, do sexo, da morte, do álcool… Nesta entrevista exclusiva, a cantora de 23 anos fala sobre fama, medo, música, sonhos e ativismo político, depois que se tornou militante pelos direitos dos gays na imensa passeata pela igualdade que sacudiu Washington DC em outubro.

Quem é Lady Gaga?

LADY GAGA: Eu sou uma filhinha do papai! Descobri isto no hospital, quando meu pai estava entre a vida e a morte. Voltei a ser aquela garotinha de tenis e calça jeans que ficava ao lado dele querendo ouvir histórias. Foi ele quem me disse, quando já se sentia mais forte: “Stefani: quero ver você com um vestido lindo, com o seu melhor baton vermelho e cantando aquelas músicas que fazem todo mundo dançar…” E então eu senti as lágrimas correrem e soube que ele estava me mandando trabalhar porque já estava mais forte. Você vê que eu sou uma tremenda filhinha do papai, disfarçada de loura má…

Mas esta que você descreveu é Stefani. Quem é então este personagem pop chamado Lay Gaga?

LADY GAGA: Ah, bem… Este personagem é alguém que batalha muito, que compõe feito uma louca, que não passa mais de dois dias na mesma cidade e que vai seguindo de festa em festa pelo mundo a fora. Não estou dizendo que minha vida é um grande passeio, não, eu tenho uma vida de muito trabalho.

Como é o disco novo e por que você decidiu falar do medo?

LADY GAGA: Eu compus as canções novas quando estava fazendo shows pelos países do leste europeu. De repente, eu me vi numa sala cantando para chefões da máfia russa, politicos de estados que eu nunca tinha ouvido falar, uma gente que dava medo só de olhar. Este album tem um clima meio gótico, com batidas industriais misturadas a um instrumental pop. O disco tem um lado dançante, claro, mas ao mesmo tempo profundamente melancólico, uma melancholia que tem a ver com os anos 80, um clima meio dark… Isto está nas letras também, que falam de medos que todos nós temos, medo da solidão, do fracasso no amor, do sexo ruim, da morte… Mas esses medos no caso de celebridades parecem mais fortes e mais urgentes…

Por que a vida de gente famosa é cercada por tanto medo?

LADY GAGA: A gente vive num mundo que quer destruir celebridades. Tudo se consome com uma velocidade incrível e os paparazzi não deixam ninguém curtir o sucesso em paz. Eu estou no showbiz apenas há três anos e tudo o que eu faço é assunto de mídia, tudo é uma cena diante de uma platéia. Eu resolvi transformar esse desejo de destruir celebridades no tema da minha música, dos meus shows e dos meus videos. Querem ver a minha morte? Então eu vou encenar a minha morte na frente de todos, vou passar dez minutos ensanguentada no palco para que todos me vejam sofrer! E se tenho este visual de Marilyn Monroe não só porque faço uma homenagem à artista que se suicidou e que só não teve sua foto com pílulas para dormir nas mãos porque a época era outra e não havia tanto paparazzi como agora. Tenho esse visual Marilyn porque quero encenar esta guerra de celebridades, essa guerra entre louras e morenas, quero transformar numa grande comédia esta concorrência entre as celebridades, exatamente como fiz com Madonna, no quadro de humor do SNL. A gente escreveu aquilo juntas. Eu disse para Madonna: sabe o que o público mais gostaria de ver? A gente saindo no sopapo, porque todos pensam que eu quero roubar o seu lugar… E ela disse: ah, mas então é isto mesmo que a gente vai fazer: vamos dar ao público o que eles querem ver!

Você tem uma música que fala do medo do amor… Você tem medo do amor?

LADY GAGA: Claro! Quem não tem? Amor e sexo são muito fortes… São de dar medo! Aliás, para os meus fãs brasileiros, eu fiz uma música falando do medo do sexo, inspirada num namorado que tive chamado Alessandro. Vão todos querer saber quem é e eu não vou dizer... Acho que esta é uma canção que vai falar muito com os brasileiros…. Adoro os brasileiros, tenho muitos fãs brasileiros no twitter e a gente conversa muito… Quero ir ao Brasil em 2010. Anote aí: a turnê deste disco novo vai passar pelo Brasil em 2010.

Você conhece música brasileira?

LADY GAGA: Não, infelizmente não. Eu sou do tipo heavy metal, que dorme e acorda ouvindo Black Sabath… Imagina…

Você aprendeu piano de ouvido aos 4 anos, aos 13 já estava compondo e aos 14 já estava fazendo shows para crianças. Mas sua carreira deslanchou apenas há três anos, nos clubes do Lower East Side, ao lado de bandas como Mackin Pulsifer e SGBand, em shows burlescos. O seu nome artístico veio de um sucesso do Queen, “Radio Ga Ga”. E na época você rodava pela noite de Nova York sem muito sucesso, até que resolveu se mudar para Los Angeles. O que é esta volta a Nova York para você?

LADY GAGA: Acho que o sucesso em L.A. só aconteceu depois da minha batalha em Nova York. Uma coisa leva à outra. Nova York vai ser sempre a minha casa. Eu amo essa cidade. Se eu tiver uma casa no mundo ela fica em Nova York…! Então não vem com essa istória de que eu precisei ir para L.A. para fazer sucesso...

Você participou e discursou na parada gay pela igualdade de direitos em Washington e também participou de um jantar com líderes do movimento gay e o presidente Obama. Você acha que Obama vai fazer algo pelos gays?

LADY GAGA: Acho que a gente tem que ter fé.

Isto significa que você confia em Obama?

LADY GAGA: Sim. Eu sei que muita gente critica porque Obama ainda não fez nada e tudo parece que fica só no discurso. Eu mesma disse no jantar com o presidente que a gente tem pressa, que a gente quer tudo para agora e não para um amanhã que não chega nunca. Mas ele disse que é preciso ter paciência e ter confiança. Então eu digo que é preciso ter fé.

Você acha que o show business está mudando? Você acha que existe homofobia no show business?

LADY GAGA: Existe sim! E quem disser que não existe estará mentindo. Existe homofobia e existe misoginia. Os poderosos da indústria da música não gostam de gays e nem de lésbicas e também não gostam de mulheres fortes. Mas isto está mudando...

Mas você não acha que vivemos uma época de mulheres poderosas na música, como por exemplo Madonna, Beyoncé e Lady Gaga, todas figuras femininas poderosas?

LADY GAGA: Concordo, é verdade, a gente está mudando o cenário musical. Mas isto não quer dizer que a homofobia e a misoginia acabaram na indústria da música… De jeito nenhum! O show business sempre foi muito machista, muito humilhante para as mulheres. Não havia lugar algum para gays e lésbicas. Eu sou de outra geração, cresci do meio de gays e lésbicas, tenho milhares de amigos gays, ando e trabalho com lésbicas maravilhosas, e não trabalharei jamais com quem quer que tenha preconceito sexual ou de qualquer tipo. Mas isto é uma novidade no meio artístico. E olha que eu estou falando de Los Angeles e Nova York, as cidades mais liberadas da América! A reação dos conservadores não é fácil… E precisa ser enfrentada.

Você reconhece que muitas vezes se veste com o objetivo de provocar, como aconteceu em Toronto, em junho passado, quando você entrou no palco com um corpete transparente que cuspia fogo dos seios, ao lado de dançarinos vestidos de policiais, numa coreografia que sugeria uma orgia sexual?

LADY GAGA: Você achou aquilo chocante? Ah, thanks! Ninguém mais acha nada chocante… Minha idéia era usar o corpo como uma arma, claro. Vivemos o sexo como uma guerra e a sedução é uma arma feminina. O hip hop fala muito disto, o funk fala muito disto. A cena disco tem que falar de sexo, tem que expor o sexo. Esta é a idéia do Monster Ball Tour! Vamos voltar ao Canadá em novembro, vamos para o Reino Unido em fevereiro e no fim de 2010 quero chegar ao Brasil!

Quantas tatuagens você tem?

LADY GAGA: Tenho nove. A última que eu fiz foi um coração com a palavra “Dad”, perto do meu coração, em homenagem ao meu pai. Mas a que eu mais gosto é a que eu fiz no braço esquerdo, que é um poema do meu autor preferido, o poeta Rainer Maria Rilke, que diz em alemão: “Confessa a você mesma, na hora mais profunda da noite, se você preferiria morrer caso fosse proibida de escrever. Olhe fundo no seu coração, onde a resposta encontra raízes no seu ser, e então pergunte a você mesma: devo escrever?”

Madonna declarou recentemente que vê um brilho dela em você. O que você acha disto? Você se sente uma “herdeira da Madonna”?

LADY GAGA: Ela é mesmo uma doçura, não é? Adoro Madonna, adoro Beyoncé, queria ser as duas! Queria ser a loura e a morena! Mas eu sou muito pequenininha diante delas… Tenho apenas três anos de estrada. Sinto que ainda me falta estrada. E o que é pior: sou de um tempo em que a fama dura muito menos. Por isto, tenho pressa de fazer o meu trabalho. Quando penso em como gostaria que as pessoas se lembrassem de mim… Quero que digam que fiz uma música de liberação. Quero que no futuro Lady Gaga seja sinônimo de liberação! Em todos os sentidos!

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